quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Escrever por prazer

Caricatura daqui

Uns escrevem para se expressar, outros para se suportar, outros para ensinar... Mil são as motivações para escrever. Alguns escrevem para divertir, a si mesmos e aos outros: escrevem por prazer. É o caso de Bernardo Guimarães e Maria Judith Ribeiro, no livro Morte Abjeta (Salvador, 2002, edição dos autores). O próprio Bernardo, em seu blog, explica o livro:

"Maria Judith Ribeiro é minha amiga desde os anos 70. Em 72 namoramos e acho que não nos suportamos mais que seis meses e decidimos ficar amigos, que era mais negócio, se bem que ela nunca engoliu a história de Tuca, a namorada que veio em seguida; ficou por aí algo meio que mal resolvido. Até hoje a menção da palavra Tuca lhe causa reações inesperadas, como se mijar em publico ou me esbofetear se minha cara-de-pau (SIC) estiver a seu alcance. Nunca perdemos contato, apesar de serem sempre entremeados de acusações mútuas, recheadas de carinho. Maria sempre gostou muito de escrever, escrevia cartas de verdade, mandadas pelo Correio e tudo. Depois passou, não sem certa dificuldade devida à baixíssima coordenação motora, para o teclado e e-mails. Um belo dia recebi um desafio de responder, como se verdade fosse, a um texto que me enviaria no dia seguinte. E recebi. Ela me avisava que, ao retornar de suas férias, teria sido testemunha de um assassinato no seu lugar de trabalho. Respondi com minhas preocupações e a partir daí e por quase dois anos, passamos a nos corresponder até concluir o "caso". Quando recebia seu e-mail, Vera lia e gargalhava com as maluquices em nossa troca de textos e insistia em que devíamos publicar para que outros também pudessem rir. Foi assim que nasceu "Morte Abjeta", o livro.”
Gente, o livro é de chorar de rir. Os dois autores são engraçadíssimos, cheios de imaginação, anarquizam o tempo todo um com o outro, criam situações inusitadas, rocambolescas... e a gente não consegue parar de ler! Tem de tudo: morte abjeta (nojenta!), São Fudêncio, piadas, depoimento de gaúcho machão sobre homossexual sergipano, gozações mis com quase tudo (incluindo determinados aspectos da veneranda Justiça), acertos de contas com o passado, xingamentos, causos cabeludos e carecas... tudo isso ao tempero baiano. Eu me diverti muito — e como estava precisando! Tive a nítida sensação de que os autores se divertiram mais ainda. Valeu, gente, obrigada!
Passei por uma experiência parecida com a de Bernardo e Judith. Com mais nove autores, escrevi A Nave de Noé (Rio, Editora Record, 1999), livro todo de e-mails (como Morte Abjeta), dedicado ao público adolescente. A internet estava então começando a se espalhar pelo Brasil, e nós, um grupo formado por irmãos e primos residentes em diversas partes do país, alguns deles escritores, outros leitores contumazes, passamos a trocar e-mails entre nós. Trocamos tantos que, meio sem sentir, aos poucos fomos construindo o que depois se tornou o livro. Cada um criou e assumiu um personagem — eu, por exemplo, era a Janinha Sherlock —, que ajudava a desvendar (outra semelhança com Morte Abjeta) um grande mistério, em meio a aventuras, romance e muito humor. O livro foi feito assim: um de nós mandava um e-mail para o grupo todo, como se fosse o personagem do livro, e outro personagem respondia, fazendo a ação girar. Posso dizer que nunca me diverti tanto ao escrever. Escrever por prazer e para dar prazer é bom demais!

20 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

Obrigado a vc,Janaina,por seu carinho. Não se trata, repito sempre, de uma peça literária cuidadosa e atada à LITERATURA; antes, o livro é fruto de uma brincadeira entre dois amigos e que consegue sempre ( ao menos nos dizem e já começo a acreditar) divertir as pessoas que o leem, tanto quanto nos divertimos ao trocar as farpas. Vindas de vc as palavras simpáticas, tornam-se um elogio ao nosso livro.
Obrigado, mesmo.
Agora só faltam Marcus e Nilson; as " Mortes Abjetas" deles estão a caminho. he...he...

Anônimo disse...

janaína:
desatento,pensei que você falasse do bernardo guimarães daqui de ouro preto,o homem que salta da escrava isaura para o elixir do pajé.depois me situei.e vejo que você comemora a florbela espanca.
grande!
romério

valter ferraz disse...

Janaína,
escrever por prazer é sempre garantia de um resultado. Quando leio o que vc escreve por exemplo, vejo que se diverte junto com o leitor.
O livro do Bernardo está na minha lista de compras. Logo chega a vez dele.
Beijo, menina

Lord Broken Pottery disse...

Jana,
Pena que a nossa N@ve seja tão desprezada pela Record. Vender dis livros em un semestre é brincadeira de editora pouco séria. Se eu resolvesse vender na rua, vendia mais.
Beijo

Anônimo disse...

Jana,
você sabia que os lançamentos da N@ave e da Morte foram no mesmo local aqui na Bahia? No Barra38 de Dr. Arthur. Mais um ponto em comum desses dois divertidos e mortíferos livros.

miro paternostro disse...

já estava doidinho para ler o 'morte abjeta' e agora quero ler o N@ve!!!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Janaina, que prazer em te ler. E que prazer em vir aqui.

Venho aqui por dois motivos. O primeiro é convidá-la a visitar este blog aqui:
http://www.elasestaolendo.blogspot.com/

A Aninha fez uma resenha deliciosa sobre um dos seus livros. Seria um prazer tê-la por lá.

O segundo é convidá-la para uma entrevista no blog. No ano que vem teremos algumas coisas novas e uma delas é entrevistar os autores. Seria muito bom tê-la conosco.

Por favor, nos confirme se você aceita o nosso convite.

Um grande abraco Georgia e Flávia

Aninha Pontes disse...

Que legal.
O bem gosta muito do que o Bernardo escreve.
Bom, vamos ler todos esse livro, assim que for possível.
Pois é, vim te convidar a ler as respostas do questionário da Geórgia, mas cheguei tarde.
Claro, que elas são bem simples, mas dizem o que achei do seu livro.
Um beijo à vc e aos autores.

Janaina Amado disse...

Bernardo Guimarães, não foi à toa que, na primeira vez em que lhe escrevi, disse que vc. tem nome de escritor - veja que vc. confundiu até o poeta Romério Rômulo, he he. José Paulo Paes, o poeta e estudioso da literatura, dizia que existe um tipo de literatura, que ele chamou "literatura de entretenimento", e que pode ser boa ou ruim, dependendo da qualidade de quem a escreveu, mas que é literatura, sim (como existe, no cinema, a comédia, que também tem qualidade variável, mas não deixa de ser cinema. Portanto, não fuja da raia: seu livro é LITERATURA de entretenimento, e de boa qualidade.
Que tal mandar um dos últimos exemplares pro Valter, que comenta estar querendo ler? Fica a sugestão!

Janaina Amado disse...

Lord, mas que a gente se divertiu, vc. não pode negar!
Maria, vc. descobriu mais uma semelhança entre os 2 livros!
Oba, Miro, vamos te ter como leitor! Aninha, muito obrigada pelo que vc. disse a respeito de "Terror na Festa", esse meu livro para crianças. Georgia e Flávia, obrigada pela visita, voltem! Gostei do blog de vcs., terei prazer em dar a entrevista. Abraços!

Sílvia Câmara disse...

Respondendo ao seu questionamento no Brisa: Pode palpitar à vontade, Janaina.
O bacana do texto é poder dar margem a mil e uma possibilidades de interpretação.
O incômodo é sempre bom. Sinal de que "mexe" em algum ponto.
Agora, com relação ao "exaustamente" , às vezes penso que o suicida é aquele que se encontra absolutamente exausto daquela vida. E parte em busca de outra... ou não (como diria Caetano).
bjo grande

Legal essa postagem Escrever por prazer. Kegal mesmo.
outro bjo

valter ferraz disse...

Bernardo,
veja que eu tenho madrinha forte, hein?
Janaína já saiu em meu socorro. Tá vendo porque literatura não dá pé? Além de escrever, tem que dar o livro de presente.
Manda aí, vai!
Abraço procê
Beijo, prá Janaína

aeronauta disse...

Eu não disse?

Janaina Amado disse...

Aeronauta, você disse!

Mario Poloni disse...

Amada Amado, Janaina...
Gracias pela visita e pelas impressões e gracias por me dar a chance de conhecer seu jeito e seus escritos...
Bjsssssssss

Dalva Nascimento disse...

Olá!

Estou passando para lembrar sua participação na Blogagem Coletiva “Interlúdio com Florbela”, na próxima segunda-feira, dia 8 de dezembro. Noventa Blogs se inscreveram para participar, e como agradecimento pelo carinho de todos esses blogueiros, criei um espaço onde vou publicar todos os posts da Blogagem Coletiva, bem como o respectivo link do blog... Dá uma passadinha prá ver como vai ser, e aproveita para imaginar como vai ficar lindo o seu post por lá!

Ah... e lembre-se: são 90 blogs participantes... pode ser que não consiga publicar o seu post logo na segunda-feira, mas vou fazer o possível para que, até terça-feira todos estejam postados...

Espero que goste!
Beijos!


http://interludioemflorcomflorbela.blogspot.com/

Anônimo disse...

Janaína, deu uma vontade enorme de ler o livro. Tentarei encontra´-lo. Um abraço. Feliz final de semana.
Adelino.

PS - Eu acho que vocês escritores escrevem por prazer. E ponto final.

anjobaldio disse...

Ôi Janaina. Tem um novo vídeo-poema lá no anjo baldio.
Grande abraço.

Ana Tapadas disse...

Obrigada pelas palavras gentis!
Muito bom o seu site.
Aquele abraço

Eliana Mara Chiossi disse...

Cheguei aqui via Chorik via Bernardo e pelo jeito, tenho que voltar e ler e voltar e ler. Não sabia do Bernardo Guimarães e da Judith e estou morando em Salvador há uns dez anos. Quero saber mais do trabalho/escrita deles.
Beijos e desejos de boa segunda (seguida de boa terça, quarta, quinta,...)

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