quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O encontro do sol, da água e da cidade


Para saber que encontro é este, clique aqui.

domingo, 15 de novembro de 2009

Tudo é tradução


Se pensarmos bem, tudo é tradução, ou seja, a maioria das atividades humanas consiste em transmitir uma ideia, uma impressão, uma canção, um poema, um objeto, um conhecimento de uma realidade para outra, em traduzi-los, em torná-los inteligíveis de um ambiente para outro, de um grupo de pessoas para outro. Quando dou uma aula, estou traduzindo um determinado conteúdo para os alunos. Se toco uma peça ao piano, traduzo, usando meus conhecimentos e técnica, uma peça que originalmente alguém compôs, em si também uma tradução dos sentimentos e ideias do seu compositor... a teia que vai se estabelecendo entre os humanos é quase infinita, nessas aproximações que fazemos, para nos comunicar.
Conheço poucos textos sobre tradução tão bons quanto este de Saramago. Referente à escrita e à tradução entre idiomas, foi no entanto concebido no sentido amplo a que me referi:

“Escrever é traduzir. Sempre o será. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos […] para um código convencional de signos, a escrita, e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não a integridade da experiência que nos propusemos transmitir (inevitavelmente parcelar em relação à realidade de que se havia alimentado), mas ao menos uma sombra do que no fundo do nosso espírito sabemos ser intraduzível, por exemplo, a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o resto de um sonho que o tempo não apagará por completo.
O trabalho de quem traduz consistirá, portanto, em passar a outro idioma (em princípio, o seu próprio) aquilo que na obra e no idioma originais já havia sido “tradução”, isto é, uma determinada percepção de uma realidade social, histórica, ideológica e cultural que não é a do tradutor, substanciada, essa percepção, num entramado linguístico e semântico que igualmente não é o seu. O texto original representa unicamente uma das “traduções” possíveis da experiência da realidade do autor, estando o tradutor obrigado a converter o “texto-tradução” em “tradução-texto”, inevitavelmente ambivalente, porquanto, depois de ter começado por captar a experiência da realidade objecto da sua atenção, o tradutor realiza o trabalho maior de transportá-la intacta para o entramado linguístico e semântico da realidade (outra) para que está encarregado de traduzir, respeitando, ao mesmo tempo, o lugar de onde veio e o lugar para onde vai. Para o tradutor, o instante do silêncio anterior à palavra é pois como o limiar de uma passagem “alquímica” em que o que é precisa de se transformar noutra coisa para continuar a ser o que havia sido. O diálogo entre o autor e o tradutor, na relação entre o texto que é e o texto a ser, não é apenas entre duas personalidades particulares que hão-de completar-se, é sobretudo um encontro entre duas culturas colectivas que devem reconhecer-se."


[José Saramago,
O Caderno de Saramago, 2/7/09]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Abre aspas para a poesia


Amaresia

Magias e morfemas
beijam madrepérolas
no marulhar da nudez
dos teus passos nacarados
– búzio a cantar o mar –
vestindo rendas chuvas
organzas
espumas
e calemas...

Namibiano Ferreira

Na blogosfera descobri o fascínio, a força e a beleza da poesia de Namibiano Ferreira, poeta nascido no deserto do Namibe, Angola, atualmente morador em Norfolk, Inglaterra. Volto ao seu blog com frequência: seus versos me atraem irresistivelmente para o esplendor do espaço mágico do Namibe, aonde eu nunca fui, mas é como se conhecesse cada grão de areia, pois sinto o Namibe deste poeta como uma espécie de substrato mítico de onde viemos todos, e desde sempre. A poesia poderosa de Namibiano Ferreira — aqui representada por Amaresia, delicado poema de amor e mar, pois, pasmem, o Namibe também é mar — é minha contribuição para a blogagem coletiva "Abre aspas para a poesia", ótima iniciativa da Lunna, do Teorias Impossíveis, com o objetivo de encher a blogosfera de poesia.
*Imagem daqui

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