Uma das alegrias que a blogosfera tem me trazido é a descoberta de excelentes escritores portugueses, principalmente poetas. Quase a cada semana descubro um novo, e me encanto e me comovo e me apaixono e aprendo com seus textos, sem a mínima vontade de largar-lhes os blogs. Outro dia, lendo o excelente Domingo da Mota em Morcegos e Olhimancos (que delícia de nome! E ele tem ainda outros dois blogs), encontrei lá um poema de Fernando Morais que me chamou a atenção. Domingos me pôs em contato com Fernando, que gentilmente me enviou alguns poemas. Transcrevo um deles, que o autor explicou ser bastante recente:
O SERMÃO
O SERMÃO
Do púlpito saíam sons tremendos
não era fala de gente nem guinchos de bicho
eram ameaças para além da morte
eram chibatadas e roufenhas
quase palavras de castigo
As inocentes vítimas sentadas
murmuravam de cabeça baixa
num templo de fios eléctricos
microfones e sintetizadores…
Às tantas o discurso acabou
e passou a saca das esmolas
toda ufana e contente…
era a única que não estava assustada !
não era fala de gente nem guinchos de bicho
eram ameaças para além da morte
eram chibatadas e roufenhas
quase palavras de castigo
As inocentes vítimas sentadas
murmuravam de cabeça baixa
num templo de fios eléctricos
microfones e sintetizadores…
Às tantas o discurso acabou
e passou a saca das esmolas
toda ufana e contente…
era a única que não estava assustada !
Fernando Morais nasceu em 1935 em Vila Nova de Gaia, cidade situada em frente ao Porto. Tem vários livros publicados, em edições do autor, como Poetas de Rua, O Ano Tenebroso, Viver é Muito Mais e, deste ano, em edição revista e ampliada, A Cidade Ocupada pela Poesia. Fernando Morais lutou contra o salazarismo, sendo por isso preso. Ao longo da vida, tem se posicionado contra as injustiças sociais. Sua poesia apresenta acentuado cunho social.
A foto deste post me foi enviada pelo próprio Fernando. Quando eu quis saber se o barco era dele, explicou-me: “O barco é para turista ver, está ancorado no Rio Douro e eu habito um pouco longe, a 1 kilómetro de distância. O barco chama-se ´rabelo´, é um tipo de embarcação que transportava pipas de vinho através do rio para o interior de Portugal.”
Fernando Morais, com razão, é um entusiasta do seu cantinho no mundo: “Esta região é um sonho poético, uma beleza inexcedível e a viagem de combóio ao longo da margém até à Régua tem a fama de ser a 8ª maravilha do mundo. É aqui que eu sonho com uma vida melhor (para todos os povos).”
9 comentários:
Janaína,
Essas suas descobertas são maravilhosas e compartilhá-las, uma dádiva! Domingos da Mota é um excelente poeta e Fernando Morais também! Muito bom vir aqui em seu blog!
Abração!
Adriano Nunes.
Janaína,
Agradeço-lhe as referências que faz ao meu blog, um de vários, e o ter publicado este belo poema do poeta meu vizinho Fernando Morais, poema que também me foi enviado e penso publicar.
Obrigado.
Domingos da Mota
Ótimas dicas , Janaína.
Abraço.
olá, gostei do seu blog. se der, dê uma visita no meu!
Lindo, Jana! E eu não o conhecia.
Eu sou de Peixes! E espero que vc goste do Vestígios.
Bjs
Ir de carona por onde andas é um deleite.
beijo,
Guilhermina
Janaína: eu também estou amando o contato com os portugueses. Há dois blogs incríveis: Da Condição Humana e Bibliotecário de Babel. Do primeiro, ficamos amigos (Gláucia também) e ele fez uma resenha do livro de Gláucia Lemos (saiu no Cultural aqui).
Você sente o cheiro de coisa boa, com sua sensibilidade.
Agora, parece que sacs de esmola é igual em qualquer lugar né?
Beijos querida.
Também gostei muito!
Ando meio ausente: trabalho de fim de ano...ufaaaaa!
beijinho, amiga
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