terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tempos dionisíacos


Dyonisio

Ungido para o fado e a nova festa
meu carnaval profano já celebra
as quarentenas dívidas da carne Adicionar imagem
na cela de costela das mulheres.

Como devasso réu, confesso fauno,
no vinho das delícias me declaro
sem culpa e sem pecado original
pois nessa pena sou igual a tantos.

Já disse certa vez em cantoria:
de nada me arrependo e reconfirmo
agora que o meu tempo é só de gozo.

A vida que me dou não dá guarida
nem guarda desalentos de tristeza
somente na alegria é que me morro.


Anibal Beça

(Palavra parelha. Edições Galo Branco, 2008, p.189).


[Outro dia, topei com um lindo poema de Anibal Beça no Gira Mundo!. Comentei lá que não conhecia o poeta, mas aquele seu poema havia me encantado. A poeta Nydia Bonetti, em e-mail para mim, reforçou a qualidade de Anibal Beça. Animada, adquiri um livro do poeta, Palavra parelha e outros poemas, nele descobrindo uma poesia (que eu antevira precisa e seca, imaginem) caudalosa, múltipla, lúdica, cuidadosa, inteligente, desigual porém inesgotável, em formas, temáticas, fascínio: poesia amazônica, que me fisgou, poesia-boto encantada, chegada via blogosfera – obrigada às duas e-amigas –, que veio para ficar comigo, em casa, no coração, na imaginação.

Homem de múltiplas atividades, poeta, compositor, jornalista, Anibal Beça nasceu em Manaus (1946), onde também faleceu, no ano passado, aos 63 anos de idade. Deixa obra vasta, em poesia, ensaios, letras de música, crítica e artigos jornalísticos, que merece ser cada vez mais conhecida, divulgada e estudada, e da qual o lindo soneto acima é pequena amostra.]
* Imagem: Baco, de Caravaggio

10 comentários:

Jefferson Bessa disse...

Janaina, que lindo soneto de Anibal! Um prazer esta leitura que "nos mata de alegria". Linda postagem de "delícias" e "prazeres".

Beijos.

Jefferson.

Aninha Pontes disse...

E aqui encontramos coisas que nem sabemos existir.
Sempre coisas boas, pelo seu bom gosto e perspicácia.
Beijos nossos.

cirandeira disse...

Aníbal nos deixou poemas de excelente qualidade e merece ser amplamente divulgado. Lamentavelmente partiu cedo, sem receber as devidas homenagens enquanto esteve entre nós...Existem
tantos poetas e escritores pouco conhecidos, praticamente no anonimato.É muito bom fazermos isso, é muito bom quando o que fazemos tem uma continuidade. Que a roda continue girando, girando e nos acrescentando mais beleza, mais poesia e muitas, muitas outras estórias!
Texto e imagem belíssimos! Parabéns, Janaína

Anônimo disse...

Janaína,


Muito bom! Vou tentar adquirir algum livro desse poeta manauara!


Beijos,
Cecile.


P.S. : O Adriano Nunes já está em Maceió!

Renata de Aragão Lopes disse...

Lindo soneto!
Excelente indicação de leitura!

Um abraço,
doce de lira

nydia bonetti disse...

Nossa, Janaína, que emoção encontrar este soneto do Anibal aqui. Há pouco tempo retornei ao http://outsiderwriters.ning.com/, e me emocionei quando li os poemas e os recados de Beça no meu perfil. Imagine, ele dizia que estava ali para aprender com Beto Palaio e comigo a arte do haiku. Ele, O Mestre. Além do imenso talento, era esta simplicidade e humildade que sempre admirei nele.

beijoos.

dade amorim disse...

Jana querida, a cada vez que venho aqui vejo que este blog cresceu em qualidade. O post anterior sobre Tatiana é perfeito, assim como esse sobre Aníbal. Um prazer e tanto vir aqui.

Beijo beijo

Carlos Eduardo da Maia disse...

Janaina, muito legal teu Blog. Dionísio nasceu na perna de Zeus. Ele é um deus torto e eu adoro deus torto. Estou muito mais para Dionísio do que para Apolo. Gosto mais da flauta pan do que da Lira. E recomendo um livro sobre o assunto que estou devorando -- com fome dionisíaca: "A sabedoria dos mitos gregos" do Luc Ferry.

Dalva Nascimento disse...

Olá, minha querida!

Estou de volta, morrendo de saudades
dos amigos!

Espero que o feriado tenha sido bom
para você!

Anibal Beça é um poeta que aprecio muito, desde que li "Constatação" procurei conhecer um pouco mais dele... gosto muito de seus "dez haicais para os olhos da amada" e "lento acalanto para Ferreira Gullar"...
Beijos!

líria porto disse...

meu querido amigo, o poeta anibal beça, um pouco antes de partir, enviou-me todos os seus livros - nem tive tempo de agradecer...

besos - pra ti também, anibal, onde estejas...

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