domingo, 24 de janeiro de 2010

De vaidades e ignorâncias


Ele nasceu quase duzentos anos antes de Cristo, na África, em local próximo a Cartago, na atual Tunísia. Vendido como escravo a um senador romano, foi por este educado, tornando-se um dos grandes autores de teatro do seu tempo, em todo o Império Romano. Publius Terentius Afer (195/185 a.C. – 159 a.C), conhecido em português como Terêncio, escreveu seis peças de teatro – entre elas Andria, Eunuco e Hécira (A sogra) – até hoje representadas, pela graça, vivacidade e ironia dos textos.

Atribuem-se a Terêncio algumas frases ótimas:

Nada do que é humano me é estranho.

O mais próximo de mim sou eu.

Nada é agora dito que não tenha sido dito antes.

Esta última frase – criada, sempre é bom repetir, no século II antes de Cristo –, deveria ser lembrada toda vez que algum escritor ou grupo de escritores alardeasse estar criando algo novo, jamais visto, dito ou escrito. Esse tipo de bazófia – infelizmente muito repetida hoje, pois estamos em plena era da valorização da novidade pela novidade – expressa, em geral, apenas uma coisa: ignorância.

Como escritores, creio que devemos, sim, buscar ser criativos, não nos conformando em imitar o que já está aí feito. Mas sem pensar que somos os primeiros, os originais, os inéditos, os únicos. Nada é agora dito que não tenha sido dito antes. Ou, como expressa o ditado popular: Não há nada de novo sob o sol. Ou ainda, como concluiu no século XVIII o químico francês Antoine de Lavoisier: Na natureza nada se cria, tudo se transforma.
*Imagem daqui.
** A frase destacada de Terêncio até há pouco ilustrava o blog de meu e-amigo Mariano.

7 comentários:

MARU disse...

Muito conhecido aqui na España, também, e muito do gôsto de quem gosta das obras clásicas.

Os ditos tambén säo muito conhecidos.
Nada novo, baixo o sol, ¿näo?
Beijinhos

Ana Tapadas disse...

Verdades de sempre sobre um mundo que se repete.
Beijo Janaína e boa semana

cirandeira disse...

Janaína! Começo já encantada por essas máscaras, que são incríveis,
maravilhosas! Às vezes sou até meio
cáustica, mas acho que os povos antigos ainda hoje!, não foram superados. O legado que nos deixaram é incomensurável, e quanto mais os leio, mais percebo que estamos apenas engatinhando. O que existe hoje, salvo raras e honrosas exceções, é muita vaidade
e arrogância. E muito comodismo também, muita preguiça mental, um
não-querer ler, estudar, pesquisar.
Todos querem aparecer e se "dar bem". Não há aprofundamento em nada. Tudo se transformou em mercadoria, no êxito fácil, no descartável. Como dizia um velho filósofo(que atualmente está sendo relido também)"Tudo que é sólido se desmancha no ar" !
Muito oportuna e bem lembrada a tua postagem. Gostei demais.

Um grande abraço

dade amorim disse...

Certíssimo, Janaína.
Quando se trata de criação, o que há de novo não é propriamente o que se diz. Nem mesmo o estilo consegue ser inteiramente original. E quanto mais se conhece, mais se podem combinar estilos e sentidos, na tentativa de não copiar ninguém e dar o possível de si no que se faz.
Puxa, acho que ficou meio confuso =o!

Beijo pra você.

- Luli Facciolla - disse...

Eu adoro essas frases!
Pensava-se, antigamente... Hoje, copia-se...
Deve ter sido um dos motivos pra eu ter feito biologia: Lavoisier!

Beijos, Jana!

líria porto disse...

quem pensa que tudo sabe, não sabe nem imagina... risos
besos

João Luiz Peçanha Couto disse...

É isso, Janíssima! Criar é copiar de jeito diferente dos copiadores anteriores a você. Ou você acha que, por exemplo, o belíssimo filme Avatar é muito diferente em essência do nosso Iracema ou de Pocahontas ou de Dança com lobos?...

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails