quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quando eu morrer


Quando eu morrer


Quando eu morrer
me enterrem em qualquer lugar
Tanto faz lodo rio fundo de mar
terra seca ribanceira lixão boca de lobo

Mas não me enterrem viva
Pelo amor de Deus não me enterrem viva

Nesses asilos de velhos terminais
meus olhos vão circular inutilmente
não reconhecerei um único objeto
uma respiração um contato um cheiro
Nesses leitos esquecidos de hospitais
nessas friagens solidões longínquas
Não façam de conta que não me escutam
enquanto por trás riem de mim

Pelo amor de Deus não me enterrem viva

8 comentários:

Anônimo disse...

Depois de separado voltei a viver com meus pais. O que para muitos pode ser um vexame, e em certo momento também me pareceu um, hoje estou convicto que foi uma bela jogada da vida. Se eles um dia deixarem de morar comigo [ou eu com eles], certamente saberei que meus velhos não serão enterrados vivos. Que preciosidade estar perto dessas figuras maravilhosas.

Ivan.

nydia bonetti disse...

Teus textos tocam fundo, Janaína. Também não posso compreender o abandono... Não posso.

Aninha Pontes disse...

A solidão na velhice, é um pouco se sentir enterrado vivo.
Aos poucos vamos perdendo aqueles que amamos, vamos perdendo nossas referências, e vamos nos sentindo como uma folha solta ao vento.
Não é animador.
Por isso me cerco de pessoas que amo, e amo cada vez mais.
Um beijo

claudio rodrigues disse...

Ai, doeu fundo esse poema. Ser enterrado vivo é a pior morte.

RAUL POUGH disse...

Pois é... nenhum de nós tem data de validade. Mas muitos de nós tem data de invalidade. E conviver com isto pode ser dramático: tanto para o sujeito quanto para o predicado. E o resumo da ópera bem que pode ser este: naufragar é preciso...

Palatus disse...

Pelo amor de Deus e pela vida não me enterrem numa triste vida...sempre amo ler aqui...voltarei.
Abraço,
jr

André disse...

Que lindo isto, tenho 18 anos, e perdi a mãe que me criou sinto muita falta dela. Era tudo na minha vida, Cuidei dela até o ultimo momento chorei sorri, ela me ensinou a viver e hoje estou aki, SAUDADES ='(

Janaina Amado disse...

André, que bom que você cuidou tão bem da sua mãe do coração. Esteja certo de que vc fez um bem enorme, a ela e a você. Com ela vc aprendeu a viver, e viverá feliz. Beijo.

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