[Vou começar a postar alguns escritores favoritos com Hilda Hilst (1930-2004). Hilda nunca poupou a si mesma nem a seus leitores de coisa alguma. Jamais fez concessões. Mergulhada na lucidez do desvario, expôs com impressionante coragem-- e linguagem ousada, única, que mistura prosa com poemas --, cada uma das suas e das nossas feridas, feiúras, secreções, desejos. Está tudo lá, na obra dela. Nem sempre consigo ler Hilda, às vezes não agüento sua crueza ou dificuldade. Mas retorno sempre a ela: sua literatura me explica.]
Se sou um galo
coma-me inteiro.
coma primeiro
meus pés
pois faiscaram
raspando terra e cascalho.
Coma-me nero
torrando os bicos.
Ponha minhas asas
na esteira lisa
do teu conflito.
Deita-me despedaçcado
ao teu lado.
Coxas austeras
Pra tua goela.
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Hostilizo meus ocos.
Desabo-os.
Sou um ogro.
Um corvo
Esbatido de socos.
Posso ser louco:
vivo dos sonhos
de um lobo.
Desabo-os.
Sou um ogro.
Um corvo
Esbatido de socos.
Posso ser louco:
vivo dos sonhos
de um lobo.
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Minha virilha, meu bolso.
Quem és? Pergunto
À planície de pêlos que se move.
Sou iracúndia sou gozo
Sou ligadura rijeza
Sou eu
Entre o verme pastoso
E a rutilante estrela que há em ti.
Quem és? Pergunto
À planície de pêlos que se move.
Sou iracúndia sou gozo
Sou ligadura rijeza
Sou eu
Entre o verme pastoso
E a rutilante estrela que há em ti.
(Hilda Hilst, Estar Sendo.Ter Sido. S.Paulo; Nankin Editorial, 1992)
11 comentários:
Valeu, Jana!
nos presentear com Hilda Hilst
Janaina
Otimo, assim, vamos saboreando e sabendo mais de nossos escritores e poetas.
Beijinhos
Maria e Lucy,
Esta é a idéia, mesmo - compartilhar escritores que me inspiram! Beijos.
Janaína,
sempre tive a Hilda Hilst na mais alta conta. Lí vários livros dela, recomendei alguns. De fato, de difícil compreensão alguns.É preciso mergulhar no universo particular do escritor. E nem sempre é possível, por isso parece às vezes hermético, incompreensível.
Mas trabalhava as palavras com apuro e esmero.
Bom domingo,
Beijo, menina
Cara Janaína,
Parabéns pelo blog.
Estarei por aqui.
Quanto ao Bandeira, ficou meio ambíguo da forma que coloquei. É apenas porque o primeiro apontamento literário do Drummond homenageou os "apontamentos" que Bandeira fazia no Jornal do Comércio.
Saudações!
Mariano
Valter, que bom termos mais isso em comum: a admiração pela Hilda. Por causa de um comentário seu eu mudei um verso de "Vincent", você viu?
Mariano, ótimo te ver por aqui!Agora entendi a referência ao Bandeira. Vamos nos lendo.
Menina,
não estou com essa bola toda, não.
Mas ficou legal a "pequena" mudança.
Beijo, querida
Janaína, passeando de blog em blog vim parar no seu. Gostei do seu espaço e fiquei assombrada com essas poesias de Hilda que eu não conhecia.
Um abraço,
Martha
Maria Muadiê,
Enfrente a onça, isso é, a Hilda. Você sai ferida e deslumbrada da poesia dela.
Fui ao seu blog, gostei também. Mas foi rapidinho, tenho de voltar, pra te conhecer melhor e àquele mundo de poetas mulheres que te cercam! Abraço.
adoro Hilda!!!!
grande mulher e escritora!
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