[Este post integra a ótima blogagem coletiva proposta pela Vanessa em Fio de Ariadne, sobre o livro da sua vida — não necessariamente o mais bem escrito ou o melhor, mas O livro, aquele que fez toda a diferença pra você.]
Ainda me lembro perfeitamente do dia em que comecei a ler Cem Anos de Solidão, em 1967, há mais de quarenta anos (pronto, já entreguei minha idade: só Gabriel Garcia Marquez pra fazer isso com a gente!). O livro acabara de sair no Brasil, fazia um calor senegalês no Rio, eu voltava da praia. Vi de relance, na vitrine de uma livraria do caminho, essa capa aí da esquerda, não resisti, entrei e comprei o livro. Em casa, após o banho, me deitei de bruços no chão e comecei a ler. Nunca mais fui a mesma.
Hoje, passado tanto tempo — Gabriel Garcia Marquez é Prêmio Nobel de Literatura, o realismo mágico explodiu e foi exaustivamente praticado, estudado, sugado e cuspido —, hoje é difícil entender o impacto tremendo de Cem Anos de Solidão sobre alguém. Mas quando, desavisada, eu aportei em Macondo, nunca mais quis sair de lá. Macondo era a cara do mundo que eu conhecia e não sabia dizer, do que eu vivenciava porém não nomeava nem compreendia. Tudo ali me era familiar, mas, ao mesmo tempo, tudo me foi revelado pelo livro. Minha sensação — eu, maravilhada —, era a de alguém me pegando pela mão e me dizendo: isso aqui se nomeia assim, daqui em diante isto vai se chamar assim... Como se eu reconhecesse, pela primeira vez, o que é o Brasil e o restante da América Latina (que eu não conhecia ainda, mas intuía).
Aquela confusão eterna de Macondo, a sujeira, a beleza, a desordem, as sete gerações de Buendías de nomes repetidos e infinitos casamentos endogâmicos, as trinta e duas revoluções — revoluções que ninguém entendia, porém se repetiam e se repetiam e se repetiam, tumultuando para sempre o mundo —, aquela personagem Remédios, a mulher mais linda do mundo que ascendeu aos céus para nunca mais retornar, aquele Álvaro, o que tudo vendeu para entrar numa viagem de trem que nunca termina ( ainda está acontecendo), aquele Aureliano Buendía de muitíssimas mulheres e dezessete filhos porém incapaz de amar, aquela história do futuro dos Buendía encontrada num antigo pergaminho ... Aquilo era eu: pela primeira vez, totalmente identificada com o universo de um livro. Aquilo não era eu: era literatura, era a realidade transformada, transfigurada para outra dimensão.
* Imagens: à esquerda, capa da quinta edição, a mesma da primeira, em que li o livro; à direita, capa da edição comemorativa dos 40 anos de publicação de Cem Anos de Soldião, 2007.
* Imagens: à esquerda, capa da quinta edição, a mesma da primeira, em que li o livro; à direita, capa da edição comemorativa dos 40 anos de publicação de Cem Anos de Soldião, 2007.
25 comentários:
Janaina, obrigada por participar da coletiva. Nem preciso comentar seu livro :-)Belo post!
abraço
Janaina, eu tb li este livro aos 18 anos. Nunca mais me esqueci e ainda hoje quando vejo algo que me lembre o livro me parece que vejo toda a geracao dos Arcadios Buendia. Sensacional.
Vc recebeu meu email com as perguntas para a entrevista?
Um beijo grande
assino embaixo!!!!!! já tentei "converter" várias pessoas a literatura maravilhosa de Garcia Marquez, mas, para minha surpresa, alguns não gostam.
Esse é o livro da minha vida, o livro que mais reli e aquele que penso: Tem Cem Anos de Solidão, depois...tem todo mundo.;0)
Beijos.
"Por que as estirpes condenadas a cem anos de solidão não teriam uma nova chance na terra."
E lá se foi o último dos Buendía, sendo levado pelas formigas. Ele também era você, Janaína. E era eu. E era todo mundo que se encantou e chorou ao ler esse livro e chorou mais ainda quando ele terminou...
Um beijo. A escolha é perfeita.
=*
oi Janaina..quando li a relacao dos blogs da blogagem fiquei me pergutnandos e era vc ou nao...POR QUE TENHO OUTRA JANAINA NA MINHA LISTA E QUE BOM QUE FOI VC...
MARAVILHSA SEU POST.
SABE?eu nao vivo sem ler..Soiu viciada e fico paranoica quando nao tenho nada por aqui, para ler.
Eu li esse livro 2 vezes. A primeira nao entendi..mas a segunda...foi maravilhoso.
bjs e dais felizes
Olá Janaina!
Alem da oportunidade de conhecer blogueiros(as) e fazermos novos amigos, essa blogagem coletiva da Vanessa foi interessante para conhecermos também os hábitos de leitura do pessoal.
Eu também li "Cem Anos de Solidão" e confesso que é um livro verdadeiramente imperdivel.
Parabéns por sua participação e pelo seu blog que é muito bacana! :)
Abraços
Gosto da maneira que ele fala de coisas comuns sem torná-las cotidianas e das coisas desconcertantes de forma poética. Mas aí é que está a diferença!! Um livro com gostinho de quero mais! Boa blogagem! Beijus
Não li este livro, é uma grande falha minha, mas o modo como você e outros blogueiros desta coletiva falam dele me deram água na boca...
Parabéns pelo post e obrigada pela visita.
Um abração.
Quero ler com urgnecia esse livro não poderia ficar sem ler depois de tantos elogiaos e comentários ricos.
Obrigada pela vidita adorei seu blog e vou colocá-lo em meus favoritos.
Parabéns pela brilhante escolha!
Foi bem isso o que aconteceu com a descoberta do maior sucesso de GM: ele seduziu e cativou leitores que sempre vieram procurar aquela magia em seus textos. E valeu a pena, não é mesmo? Tudo que Márquez escreveu foi muito bom.
Beijo.
Realmente, apesar da confusão de nomes, Cem Anos de Solidão é maravilhoso e muito emocionou.
Professora, obrigada pela visita.
bj
Eu li Cem Anos de Solidão nessa mesma época. Você tem razão, é um livro inesquecível mesmo.
Grato pela visita, Janaína. Estou sempre falando do "Cânticos para Leibowitz" porque acho um absurdo esse livro só ser editado em Portugal.
Um beijo.
Olá!
Valeu !!!
Também me encantei com " cem anos" na mesma época do meu escolhido/indicado...
líamos uma "trilogia"
As veias abertas...
Cem anos...
e
o labirinto da solidão , do (se não me engano, mexicano) Otávio Paz.
Cada um a sua forma ajudando a entender a alma de nossa gente.
Abraço!
PS: após o tópico com minha bebê leitora fiz o meu...
http://algumassubversoes.blogspot.com/2009/02/as-veias-abertas-da-america-latina-o.html
Oi, querida!
Obrigada pelo carinho!
Ainda não tive a oportunidade de ler Gabriel Garcia Marquez, mas tenho muita vontade!
Volte sempre!
Abraços,
Helen
Ainda não li esse livro, mas depois desse comentário tão belo, quero muito ler.
Parabéns
Beijos
Bom dia!
Esse livro é maravilhoso!
Obrigada pela visita, seja sempre bem vinda!
beijos
Jana,
esse livro é mesmo muito especial.
Eu tenho a minha Macondo, chama-se Ubaíra.
Sabe que eu não sei dizer qual é o livro da minha vida?
Beijo
Olá, vim agradecer o carinho da visita e dizer que estarei viajando por estes dias de Carnaval, assim que voltar venho te ver ok?
Um beijo e até breve!
Acabo de chegar por aqui e encontro esta preciosidade. Este livro me convenceu de que toda vida conta um drama, toda família encerra uma saga. E que repetimos a história até encontrar para ela uma resignificação.
Um beijo,
Guilhermina
www.esquinadodesacato.blogspot.com
Piquei o pontografo e assinei por baixo.
O tema do Realismo / Romantismo
é sempre pertinente e necessário.
Xaxuaxo
Achei hoje, nesta madrugada insone, este teu outro blog (eu sou distraída). Amei. Bjs
Jana,
Não chega a ser o livro de minha vida, mas foi um dos mais importantes. Depois li O Amor nos Tempos do Cólera, que também me fez muito bem.
Beijo grande
Jana,
durante um tempão pensei ser "100 anos" o livro de minha vida. Há poucos anos compreendi, o livro de minha vida é "7 histórias verdadeiras" de Graciliano Ramos. Mal sabia ler quando Pedro Borges me deu o livro. Li, reli pela vida afora. Sendo o meu primeiro livro de mesmo... levou-me a todos os outros. Levou-me a AMAR A LEITURA.
e alguem é o mesmo depois deste livro?
Janíssima!
Já te disse que o Cem anos também foi O livro, aquele que fez toda a diferença? Admito até que não é o literariamente mais bem acabado, mas o que definitivamente me arrancou da cadeira e me fez aportar em Macondo. Pra sempre.
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